terça-feira, novembro 29, 2005

fico a sós com ...

A sofreguidão... sim com ela fui ao fundo, perdi-me não por descuido mas porque a velocidade era demasiada e só agora o consigo reconhecer.
O caminho começa a estreitar fica apenas um pequeno corredor, sem cruzamentos, sem saídas, inevitavelmente o embate acontece. . .
Não sei usar o destino como justificativa, o que me rodeia não pode ser usado como desculpa, a fé não faz parte de mim.
Fico a sós com a ilusão, afinal sou eu a minha única crença:

Nada garante que tu existas
Não acredito que tu existas
Só necessito que tu existas

David Mourão Ferreira

fotografia de PedroGobbi

domingo, novembro 27, 2005

poema do amor


Este é o poema do amor.
O poema que o poeta propositadamente escreveu
só para falar de amor.
de amor,
de amor,
de amor,
para repetir muitas vezes amor,
de amor,
de amor,
de amor,
Para que um dia, quando o Cérebro Electrónico
contar as palavras que o poeta escreveu,
tantos que,
tantos se,
tantos lhe,
tantos tu,
tantos ela,
tantos eu,
Conclua que a palavra que o poeta mais vezes escreveu
foi amor,
amor,
amor,
Este é o poema do amor


António Gedeão, Poesias Completas
(fotografia de Tom Cynig)

indolência

"Gosto da palavra "indolência"!
Dá classe à minha preguiça."

Bern Williams

sábado, novembro 26, 2005

estou ...

“Estou sentado á beira-mar, olhando o mar sem o ver.
Voa no meu pensamento, a dança e contradança de lembrar e esquecer.
Não sei se vou esquecer.

E enquanto sei e não sei;
Estou sentado á beira-mar, olhando o mar sem o ver.
Na tal dança, contradança de pensar e não pensar, pressinto que vou sentir lágrimas no meu olhar.
E enquanto sinto e não sinto, atiro pedras ao mar.”


Milan kundera
(foto de Tiago Estima)

sexta-feira, novembro 25, 2005

quinta-feira, novembro 24, 2005

alguém


"Conhecer alguém que pensa e sente como nós e que, embora distante, está perto em espirito, eis o que faz da terra um jardim habitado..." (Goethe)

terça-feira, novembro 22, 2005

teia


"porque estás triste?
alegra-te, pois enquanto houver um fio de teia de aranha para segurar-te, ainda poderás subir"

cicero buark

domingo, novembro 20, 2005

embebedai-vos

Deve-se estar sempre bêbado.
Nada mais conta. Para não sentir a horrível perda de tempo que esmaga os nossos ombros e nos faz prender para a terra, deveis embebedar-vos sem tréguas.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha.
Mas embebedai-vos.
E se algumas vezes nos degraus de um palácio, na erva verde de uma vala, na solidão baça do vosso quarto, acordais, já diminuído ou desaparecida a bebedeira, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, a ave, o relógio, vos responderão: " são horas de vos embebedardes!" Para não serdes os escravos martirizados do tempo, embebedai-vos sem cessar!
De vinho, de poesia, ou de virtude, à vossa escolha.
C.Baudelaire, Petits Poemes avec Prose, 1869

sábado, novembro 19, 2005

espero

"espero
uma chegada,
um regresso,
um sinal prometido.
pode ser fútil ou terrivelmente patético: em erwartung (espera), uma mulher espera o amante, de noite na floresta; eu não espero senão um telefonema, mas a angústia é a mesma. tudo é solene, não tenho o sentidos das proporções. "
schonberg

ausência


Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida.
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados.
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Vinícius de Moraes, em seu livro "Antologia Poética

quinta-feira, novembro 17, 2005

Hora Absurda

...
E eu deliro...de repente pauso no que penso....
Fito-te.
E o teu silêncio é uma cegueira minha...
Fito-te e sonho...
Há cousas rubras e cobras no modo como medito-te,
E a tua ideia sabe à lembrança de um saber medonho...
Para que não ter por ti desprezo? Por que não perdê-lo?...

Ah, deixa que eu te ignore... o teu silêncio é um leque-
um leque fechado, um leque que aberto seria tão belo, tão belo
Mas mais belo é não o abrir,
para que a hora não peque....

Fernando Pessoa 04/07/1913

quarta-feira, novembro 16, 2005

sensualidade


"a sensualidade é a mobilização máxima dos sentidos"
milan kundera

terça-feira, novembro 15, 2005

Gostaria....


Gostaria de falar de ti como se fosses uma nave

Como se fosses uma cortina branca no meio de uma noite
com palavras muito gastas e milhares de poemas
tão cansadas que ninguém pudesse pensar em roubar-te

Gostaria de falar de ti com as palavras inúteis da felicidade ...

Mas sinto que hoje recusas o arrepio;
o sorriso que mando à frente só encontra o deserto

Egito Gonçalves

segunda-feira, novembro 14, 2005

Até o alvorecer

Deixa nascer a lua
e não me importarei que a aurora te leve.
Deixa adormecer a noite
antes que te decidas partir.
Não lamentarei os destinos todos do amanhã
se estiveres comigo.
Ouviste o silêncio?
Ele conta lindas histórias.
Espera.
O sol não demora
e conta coisas quando chega.
Espera eu dizer outra vez
que te gosto
e derrama esse mel dos olhos pros montes dormidos
enquanto a noite já é madura.
Até o alvorecer

(Luiz de Aquino)

domingo, novembro 13, 2005

só...
























Depois da luta e da conquita
Fiquei só!
Fora um acto antipático!
Deserta a ilha e no lençol aquatíco
Tudo verde, verde
- a perder de vista...

Camilo Pessanha

sou...


“Sou uma céptica que crê em tudo, uma desiludida cheia de ilusões, uma revoltada que aceita, sorridente, o mal da vida, uma indiferente a transbordar de ternura. Grave e metódica até à mania, atenta a todas as subtilezas de um raciocínio claro e lúcido, não deixo, no entanto de ser uma espécie de D. Quixote fêmea a combater moinhos de vento, quimérica e fanática, sempre enganada e sempre a pedir novas mentiras à vida, num “elan” de mim própria que não acaba, que não desfalece, que não cansa.”
Florbela Espanca

sábado, novembro 12, 2005

ver/entender


“Os homens são miseráveis, porque não sabem ver nem entender os bens que estão ao seu alcance.”
Pitágoras

sexta-feira, novembro 11, 2005

TENHO TANTO SENTIMENTO


TENHO TANTO SENTIMENTO
(Fernando Pessoa)

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual a errada, ninguém
Nos saber á explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

quinta-feira, novembro 10, 2005

eu acreditava


"eu acreditava que qualquer coisa é melhor do que o nada. agora sei que, às vezes o nada é melhor"
glenda jackson

quarta-feira, novembro 09, 2005

ambivalência

"Todos os objectos concretos de amor, pelo contrário, são limitados, e por vezes, opressivos e frustrantes.
Antes, quanto mais importantes são para nós, tanto mais têm a possibilidade de nos desiludir.
Se uma coisa nos interessa pouco pode-nos fazer pouco mal.
Se, pelo contrário, é essencial para nós, mesmo uma falta de atenção fere-nos.
Daí a ambivalência.
Inevitavelmente, acabamos por nutrir sentimenstos agressivos pela pessoa que mais amamos.
A ambivalência é confusão, desordem."
francesco alberoni

terça-feira, novembro 08, 2005

Insonia

Insonia – (Francisco Motaco)



Neste silencio morno
Escorrendo solidão pelas paredes do quarto
Estou farto de esperar que o sono venha
Adormecer-me dos sentidos vivos
As fibras uma a uma


Cansado do silencio em que vivo
E dos que vivos
Perturbam um silencio


Enquanto escrevo
penso e sinto grande inveja
de todos os que dormem tranquilamente
sem pesadelos nem fantasmas

queria tanto dormir
um sono profundo
do tamanho da minha idade

queria só acordar
quando a infelicidade
tivesse passado

Entretanto em vez de dormir
queimo a luz e os cigarros
no meio do silencio

queimo o tempo de dormir que passou
por entre as frestas da janela
roçando-se indolentemente pelas arestas

só não consigo queimar
esta insónia que me queima
prepotentemente

Começa a hora disforme
a noite já não é noite
é madrugada!

segunda-feira, novembro 07, 2005

ah nãnãnãnãooo ... !!!!!


eu hoje estou assim, ou melhor às segundas, estou sempre assim, são dias em que a "minha ligação" é feita a válvulas ....!!

domingo, novembro 06, 2005

cores

sábado, novembro 05, 2005

tou...

momento de luz


Tenho tantas saudades de ser eu. De ver. De me deslumbrar numa iluminação.
Vergilio Ferreira

sexta-feira, novembro 04, 2005

Há sem dúvida


Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida, quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...................................................
(Alvaro de Campos)

quinta-feira, novembro 03, 2005

não


"já senti tantos acessos de alegria e tristeza, que nunca mais me deixarei ingenuamente arrastar por elas à primeira vista."
shakespears


... eu deixo-me arrastar.....

quarta-feira, novembro 02, 2005

fabúlas


Levo já quase mil noites com fábulas
e a cabeça dói-me e tenho seca
a língua e esgotados os recursos,
a imaginação. E nem sequer
sei se me salvarei com as mentiras.
Amalia Bautista.

terça-feira, novembro 01, 2005