quarta-feira, janeiro 31, 2007

sentidos

foto de Carlos Pinheiro

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso ...
A.Caeiro

domingo, janeiro 28, 2007

o principio do fim

fausto cunha

sábado, janeiro 27, 2007


se era mar, havia espuma.
se era rio, havia leito.
não era nada. não tinha nada.
o horizonte é que era estreito ...

João Mattos e Silva


....o tempo é escorregadio....

sexta-feira, janeiro 26, 2007

...

foto de Artur Franco

acendo mais um cigarro...


a companhia numa noite como tantas outras...


..necessito dum banho de realidade encarnada

quinta-feira, janeiro 25, 2007

.

"Faço parte do mundo - e no entanto, ele me torna perplexo."
C.Chaplin

sábado, janeiro 20, 2007

as nuvens

foto de Geoffroy Demarquet
Vejo as nuvens que avançam do Atlântico
para o continente.

E, por trás delas, como um pastor
exigente, o vento que as empurra.
Depois,
as nuvens passam e volta o sol, com o azul
imutável das manhãs de outono, monótono e distante
como quem o olha, ao sair de casa, sem
tempo para pensar no tempo.
As nuvens, no entanto, continuam
o seu caminho
: umas, desfazem-se em águas
obre campos vazios, ou descem para as grandes
cidades para as abraçar com um tédio
enevoado. As que me interessam, porém,
são as que sobem para norte, e ficam
mais frias à medida que as pressões continentais
abrandam o seu curso. Então, param
em dias cinzentos; e, por fim, escurecem
a tua alma, quando as olhas, e te apercebes
de que se aproxima um inverno
de solidão.

A não ser que leias, nesse obscuro céu,
esta carta que te mando.

Nuno Júdice

quinta-feira, janeiro 18, 2007

...........................

Edward Hopper, hotel-room
Tive um pouco de amor
na mão aberta.

Quis com ele construir
uma mesa
uma jarra
um assobio de perturbar
fantasmas.

Abriram-se os dedos:
caiu no chão um montão de palavras
inabitáveis.

Egito Gonçalves

sábado, janeiro 13, 2007

o meu lado lunar



foto Jmac

Quero escrever o borrão vermelho de sangue
com as gotas e coágulos pingando
de dentro para dentro
.
Quero escrever amarelo-ouro
com raios de translucidez
.
Que não me entendam pouco-se-me-dá.
Nada tenho a perder.
Jogo tudo na violência
que sempre me povoou,
o grito áspero e agudo e prolongado,
o grito que eu, por falso respeito humano,
não dei.
Mas aqui vai o meu berro
me rasgando as profundas entranhas
de onde brota o estertor ambicionado.
Quero abarcar o mundo
com o terremoto causado pelo grito.
O clímax de minha vida será a morte.
Quero escrever noções
sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua:
nada tenho mais a perder.


Clarice Lispector

quinta-feira, janeiro 11, 2007

eu gosto ...


foto Jochen van Eden



eu gosto dos venenos mais lentos
dos cafés mais amargos
das bebidas mais fortes
e tenho
apetites vorazes
uns rapazes
que vejo
passar
eu sonho
os delírios mais soltos
e os gestos mais loucos
que há
e sinto
uns desejos vulgares
navegar por uns mares
de lá
você pode me empurrar pro precipício
não me importo com isso
eu adoro voar.


Bruna Lombardi

terça-feira, janeiro 09, 2007

...

foto de Fabio Rafael Santos

domingo, janeiro 07, 2007

Metade

Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é o silêncio

Porque metade de mim é partida
E a outra metade é saudade

Porque metade de mim é o que oiço
Mas a outra metade é o que calo

Porque metade de mim é o que penso
E a outra metade é um vulcão


Porque metade de mim é lembrança do que fui
A outra metade eu não sei ..

Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço

Porque metade de mim é plateia
E a outra metade é canção

(Oswlado Montenegro)

sexta-feira, janeiro 05, 2007

ritual

foto de Christian Coigny


vida

quarta-feira, janeiro 03, 2007

E se a laranja cair? E o poema?

(...)
A queda da laranja provocará o poema?
A laranja voadora é , ou não é,uma laranja imaginada por um louco?
E um louco, saberá o que é uma laranja?
E se a laranja cair? E o poema?
E o poema com uma laranja a cair? E o poema em forma de laranja?
E se eu comer a laranja,estarei a devorar o poema? A ficar louco?
(...)
E a palavra laranja existirá sem a laranja?
E a laranja voará sem a palavra laranja?
E se a laranja se iluminar a partir do seu centro, do seu gomo mais secreto, e alguém a (esquecer) no meio da noite-servirá (o brilho) da laranja para iluminar as cidades há muito mortas?
E se a laranja se deslocar no espaço-mais depressa que o pensamento, e muito mais devagar que a laranja escrita - criará uma ordem ou um caos?(...)

Al Berto - Prefácio para um livro de poemas

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Foto de Ivan Jorge -PicoArieiro
por mais que diga
atropelo as palavras
e a garganta não escoa a desordem
de sons desconexos das fendas
húmida dos olhos
num falhanço de frases nunca terminadas

é sempre assim enquanto me debato
entre as ondas serenas
de uma raiva difusa contra as nuvens
súbitas e baixas
inquietas que sinto acumular em densidades
de algodão em rama sobre os ombros

e sempre a impressão
abrupta
de batimentos de asas alcançando
em frémitos de azul
o infinito

Carlos Nogueira Fino