quarta-feira, agosto 02, 2006



torna-se urgente encontrar sombra

segunda-feira, julho 31, 2006

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade

domingo, julho 30, 2006




gostaria de estar assim ...numa overdose de azul

sábado, julho 29, 2006

um estado de alma




de vez em quando a insónia vibra com nitidez dos sinos, dos cristais. e então, das duas uma: partem-se ou não se partem as cordas tensas da sua harpa insuportável.



so segundo caso, o homem que não dorme pensa: " o melhor é voltar-me para o lado esquerdo e asssim, deslocando todo o meu peso do sangue sobre a metade mais gasta do corpo, esmagar o coração."


carlos de oliveira

quarta-feira, julho 26, 2006


não dizer nada, chorar
até o pranto coalhar
na retina

miguel torga

segunda-feira, julho 24, 2006

hoje fico calada...

















não há histórias para contar....

domingo, julho 23, 2006


só o que provoca os sentidos...
solta o desejo

sexta-feira, julho 21, 2006

há momentos


foto Nina Jacobi


Alguns pensamentos são preces. Há momentos em que, qualquer que seja a posição do corpo, a alma está de joelhos.”
Vítor Hugo

terça-feira, julho 18, 2006

odeio....se....

foto X.Maya
Odeio o uso do modo imperativo.
Se me dizem, cala-te!, eu canto.
Se me dizem esconde-te!, eu exponho-me.
Quando me ordenam que me vista, me desnudo.
Se me mandam expor, vou pró meu canto.
Quando me querem falante, eu sou muda.
Se me fazem gritar, eu silencio.
Se me tentam excitar eu fico queda,
Se me querem gelada, fico em cio.

Sou égua de raça pura e alma leda,
Crinas ao vento e ventas de fome,
À espera de um jokey que me dome.

Quem julga que me domou, bem se engana.
Que eu só sonho... na minha própria cama.

Maria Seixas

segunda-feira, julho 17, 2006





"Para quem queira ver, há luz suficiente; para quem não quer, há bastante obscuridade."

Blaise Pascal


















foto de Michelle M.

domingo, julho 16, 2006


www.yunphoto.net/pt/






















Amar não se conjuga no condicional.

É bem possível amar um assassino. O amor não tem partes nem tempo usual. Tudo altera. Tudo inverte. Tudo perdoa. Não é só uma coisa por dentro. Para uma pessoa que ame , o mundo todo torna-se amável. Para uma pessoa que não ame tudo parece estar prestes a desmoronar-se sem mais se levantar."

Pedro Paixão, " O Ladrão de Fogo".

sexta-feira, julho 14, 2006

Xerazade




Levo já quase mil noites com fábulas
e a cabeça dói-me e tenho seca
a língua e esgotados os recursos,
a imaginação. E nem sequer
sei se me salvarei com as mentiras.

Amalia Bautista

quinta-feira, julho 13, 2006

amar

quarta-feira, julho 12, 2006

microcosmo


breves casuais
estátuas de gelo,
só temos a mais
a voz e o cabelo


por dentro quem sabe
o que as coisas são?!
-num átomo cabe
qualquer ilusão


carlos queiroz

terça-feira, julho 11, 2006

amigos

foto de Maury Perseval
Escolho meus amigos nao pela pele ou outro arquetipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim nao interessam os bons de espirito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles nao quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e; angústias e aguentem o que há de pior em mim. Quero-os santos, para que nao duvidem das diferencas e peçam perdao pelas injustiças. Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta. Nao quero só o ombro ou o colo, quero tambem sua maior alegria. Amigo que nao ri junto nao sabe sofrer junto. Meus amigos sao todos assim: metade "bobeira", metade seriedade. Nao quero risos previsiveis nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareca. Nao quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infancia e outra metade velhice. Criancas, para que nao esquecam o valor do vento no rosto e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que normalidade é uma ilusao imbecil e esteril.Oscar Wilde

segunda-feira, julho 10, 2006

sou o limite de tudo

em mim tem limite o começo e o fim de tudo. não sou começo nem fim; sou o limite

joão mattos e silva

domingo, julho 09, 2006

sábado, julho 08, 2006

...

doi.me a cabeça...

a alma... ontem ri

















doi... protesto...

sexta-feira, julho 07, 2006

passos


Sinto os passos de Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!

Florbela Espanca

quinta-feira, julho 06, 2006

aqui


habito o imaginar


porque arde

terça-feira, julho 04, 2006

envolvimento

foto de carlos marques



Pico do Arieiro
Ilha da Madeira











no topo ficamos acima do mar de nuvens ... agrada-me

domingo, julho 02, 2006

leitura do gato

O gato
nunca é o gato
mas a ausência
domesticada

vê-se bem

felinamente
que de abstrato
só tem o dono

seu fruto/furto

maduro ou podre
é o salto

que interna-se
no próprio gato

André Ricardo Aguiar



sábado, julho 01, 2006

sentir tudo

foto de Christopher Gilbert
"Sentir tudo de todas as maneiras, / Viver tudo de todos os lados, / Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo, / Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos /
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo"

f.pessoa

sexta-feira, junho 30, 2006

hoje estou cansadaaaaaaaaaa

amanhã ... de.mito.me

quinta-feira, junho 29, 2006

terça-feira, junho 27, 2006

?


haverá alguma razão para "descolar-me" da porta?

domingo, junho 25, 2006


A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.

Basta existir para se ser completo.

a.caeiro

sábado, junho 24, 2006

pele


Quem foi que à tua pele conferiu esse papel de mais que tua pele ser pele da minha pele
[David Mourão-Ferreira]

o tempo

sexta-feira, junho 23, 2006

Reconhecimento à Loucura

Já alguém sentiu a loucura vestir de repente o nosso corpo?
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parecer ser o fim?
Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor que nos faz seguir viagem sem paragem nem resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins na aula de descer abismos e fazer dos abismos descidas de recreio e covas de encher novidade?

E de uns fazer gigantes e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível atrevidamente e ganhar-Ihe, e ganhar-Ihe a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?

Tu Só, loucura, és capaz de transformar
o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais
Só tu és capaz de fazer que tenham razão
tantas razões que hão-de viver juntas.
Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar a quem tas vier buscar


José de Almada Negreiros

Poemas Assírio & Alvim

quinta-feira, junho 22, 2006

sol


"Há pessoas que transformam o sol numa simples mancha amarela, mas há aquelas que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol."
pablo picasso

quarta-feira, junho 21, 2006

segunda-feira, junho 19, 2006

que se saiba



risco o mundo

domingo, junho 18, 2006

Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos,
Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre,
Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
C.D.A

foto de marta gonçalves

-te


...desejo-te ainda.
Se o telefone tocasse, se batessem à porta, se me apetecesse sair daqui.»
(Al Berto).

sábado, junho 17, 2006

Poema de Mulher

Que mulher que nunca teve
Um sutiã meio furado,
Um primo meio tarado,
Ou um amigo meio viado?
Que mulher nunca tomou
Um fora de querer sumir,
Um porre de cair
Ou um lexotan para dormir?
Que mulher nunca sonhou
Com a sogra morta, estendida,
Em ser muito feliz na vida
Ou com uma lipo na barriga?
Que mulher nunca pensou
Em dar fim numa panela,
Jogar os filhos pela janela
Ou que a culpa era toda dela?
Que mulher nunca penou
Para ter a perna depilada,
Para aturar uma empregada
Ou para trabalhar menstruada?
Que mulher nunca comeu
Uma caixa de Bis, por ansiedade,
Uma alface, no almoço, por vaidade
Ou, um canalha por saudade?
Que mulher nunca apertou
O pé no sapato para caber,
a barriga para emagrecer
Ou um ursinho para não enlouquecer?
Que mulher nunca jurou
Que não estava ao telefone,
Que não pensa em silicone
Ou que "dele" não lembra nem o nome?


desconheço o autor, recebido por e mail

quinta-feira, junho 15, 2006

azul


... assim como sou

terça-feira, junho 13, 2006

ser feliz

"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma
. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.

Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?

Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

Fernando Pessoa.

domingo, junho 11, 2006

sensibilidade

sou "uma bola de substância rritável". não tenho pele (excepto para as carícias).
...
a resistência da madeira varia consoante o local onde se crava o prego: a madeira não é isotrópica. eu também não: tenho os "meus pontos fracos".
...
para localizar os meus pontos fracos, existe um instrumento que se assemelha a um prego: é o escárnio: suporto-o mal.

r barthes

foto - knut

sexta-feira, junho 09, 2006

afirmação


(...) abandono alegremente tarefas mornas, impostas pelo mundo em benefíco de uma tarefa inútil, originada num Dever incontestável: o Dever de amor. faço discretamente coisas loucas; sou a única testemunha da minha loucura. (...)
r.barthes

quinta-feira, junho 08, 2006

cores


uma caixa de lápis de cor

todas as cores
para pintar as palavras

terça-feira, junho 06, 2006

vida


eu não aguento mais...

domingo, junho 04, 2006

tenho razão de sentir saudades

foto de Luis Rocha dos Reis

tenho razão em sentir saudades, tenho razão de te acusar.
houve um pacto implícito que rompeste. e sem te despedires
foste embora.
detonaste o pacto. detonaste a vida geral, a comum aquiescencia
de viver e explorar os outros rumos da obscuridade sem prazo, sem consulta sem provocação
até ao limite das folhas caidas na hora de cair.
antecipaste a hora.
teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.
que poderias ter feito de mais grave
do que o acto sem continuação, o acto em si,
o acto que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada.
tenho razão para sentir saudades de ti, de nossa convivencia em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso,
voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança.
sim, tenho saudades, sim, acuso-te porque fizeste o não previsto
nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

(C.D.de Andrade)

sábado, junho 03, 2006