É tão fácil agradar o povo.
Enfeites, cores e música, calam preocupações. Calam "revoltas" do dia a dia. Porque o povo é pouco exigente. Porque o povo se satisfaz com pouco. No Natal, no Carnaval, na Páscoa, em tudo. O povo contenta-se com o "doce" que lhe dão. Seja menos bom ou medíocre. Seja miúdo ou fulgurante.Por isso o povo tem o que merece.
Raul Carvalho, poeta alentejano, escreveu um dia que os madeirenses são naturalmente "tristes". Diriamos apáticos. Pois não sabem contestar. Não sabem o que querem. Não sabem dizer "não". Apraz-lhes o "show-off". As aparências. Se brilha, satisfaz, e pronto. Nada mais a fazer. Mesmo que não passe de "fogo de vista". De espalhafato. Criticas? Só nos bastidores. Pela frente, é "comer", sorrir. E calar. Sempre calar para mais tarde repetir a "dose". Primeiro, porque é mais fácil, mais seguro. Depois, porque o doce de hoje garante o doce réplica de amanhã.
A religião é o ópio do povo. Disse-o Marx, com toda a justiça. Porque o povo vive dela. "Suga-a" avidamente. Consente por ela. Perdoa por ela.
É verdade. Aqui, neste rectangulo, o povo fez do comezinho religião.
Para alegria de alguns. E para drama de muitos.
Eker Melin, D.N. Madeira 16 Fev.1994