domingo, maio 07, 2006
POEMA À MÃE
No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe.
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha - queres ouvir-me? -
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas - tu sabes - a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
Eugénio de Andrade
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9 comentários:
Um dos mais belos poemas de Eugénio de Andrade:) beijos
Muito bonito.
Beijinhos grandes.
wind; safo; perola&granito; fernando rozano.....
não tenho duvidas um dos mais belos poemas de e.a.
jocas maradas per tutti
eu não vou com as aves...fico. aqui. a ler a tua voz pela vos de eugenio...
bjo.(maternal....:)).
É um lindo poema que transmite a realidade da vida
beijocas
Adoro Eugénio de Andreade e este dirigido às mães é belissímo
beijocas
belissima escolha
beijinhos
Sempre Eugénio... lindo!
Um beijo e boa semana...
sublime
bjos de Ana
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