domingo, abril 29, 2007

silêncios


sem nexo
sem pressa
sem forma e vazia

sexta-feira, abril 27, 2007

A lágrima súbita


foto de Augusto Peixoto

Nenhuma grande chuva
jamais encheu o mar;
nenhuma seca do Ceará
conseguiu baixar o nível das águas
deste mar-oceano;
logo,
esta lágrima súbita,
neste mar salgado,
é inútil
como volume.

(...)

— De que medos tenho coisa?

Transito eu - ela disse - entre o abismo e a lembrança;
que agora, neste borrifo de espuma e brisa,
os escorridos da minha face me confundem:
--------------------------------— serão de mim,

---------------------------------serão do mar? —
(...)

Ou, mais prudente clamar pelo sonho, que prefiro imaginar, agora:
------------------------------(optei pelo sonho,

------------------------------claro que é sonho)
esta vontade de fugir

e cavalgar horizonte e brisa,
tanger os ventos no corcel dos meus cabelos,
navegar os azuis e céus na esquina de minha face
e quando gritar por lágrima,
venha, senhora lágrima,
eu quero
eu preciso chorar,
(...)



Soares Feitosa

quarta-feira, abril 25, 2007

assim

haleh bryan


















a.sim

terça-feira, abril 24, 2007

se

Whitby



Se eu não estivesse a dormir
perguntaria aos poetas
A que horas desejam que vos acorde?

( Alexandre O`Neill )

domingo, abril 22, 2007

Estou num dia em que me pesa, como uma entrada no cárcere, a monotonia de tudo.

A monotonia de tudo não é, porém, senão a monotonia de mim. (...)
Cada dia é o dia que é, e nunca houve outro igual no mundo.(...)
O meu desejo é fugir. Fugir ao que conheço, fugir ao que é meu, fugir ao que amo.
Desejo partir - não para as Índias impossíveis, ou para as grandes ilhas ao Sul de tudo, mas para o lugar qualquer - aldeia ou ermo - que tenha em si o não ser este lugar.
Quero não ver mais estes rostos, estes hábitos e estes dias.
Quero repousar. (...) Quero sentir o sono chegar como vida, e não como repouso.
Uma cabana à beira-mar, uma caverna, até, no socalco rugoso de uma serra, me pode dar isto. Infelizmente, só a minha vontade mo não pode dar.
A escravatura é a lei da vida, e não há outra lei, porque esta tem de cumprir-se, sem revolta possível nem refúgio que achar. Uns nascem escravos, outros tornam-se escravos, e a outros a escravidão é dada.
O amor cobarde que todos temos à liberdade - que, se a tivéssemos, estranharíamos, por nova, repudiando-a - é o verdadeiro sinal do peso da nossa escravidão.
Eu mesmo, que acabo de dizer que desejaria a cabana ou caverna onde estivesse livre da monotonia de tudo, que é a de mim, ousaria eu partir para essa cabana ou caverna, sabendo, por conhecimento, que, pois que a monotonia é de mim, a haveria sempre de ter comigo?
Eu mesmo, que sufoco onde estou e porque estou, onde respiraria melhor, se a doença é dos meus pulmões e não das coisas que me cercam?
Eu mesmo, que anseio alto pelo sol puro e os campos livres, pelo mar visível e o horizonte inteiro, quem me diz que não estranharia a cama, ou a comida, ou não ter que descer os oito lanços de escada até à rua, ou não entrar na tabacaria da esquina, ou não trocar os bons-dias com o barbeiro ocioso?
Tudo que nos cerca se torna parte de nós, se nos infiltra na sensação da carne e da vida, e, (...) nos liga subtilmente ao que está perto, enleando-nos num leito leve de morte lenta, onde baloiçamos ao vento.
Tudo é nós, e nós somos tudo -, mas de que serve isto, se tudo é nada?
Um raio de sol, uma nuvem que a sombra súbita diz que passa, uma brisa que se ergue, o silêncio que se segue quando ela cessa, um rosto ou outro, algumas vozes, o riso casual entre elas que falam, e depois a noite onde emergem sem sentido os hieróglifos quebrados das estrelas.

Bernardo Soares, O Livro do Desassossego

sexta-feira, abril 20, 2007

quarta-feira, abril 18, 2007

assim...estou assim

Edward Hopper

terça-feira, abril 17, 2007

em stress


..nota-se?

domingo, abril 15, 2007

As cores do mar





tanto mar .................
sabe a sal
.................














foto de antónio manuel pinto silva

terça-feira, abril 10, 2007

A Força da Palavra


Uma palavra devolve-me o tempo exacto.
Nela me instalo.
E sou feliz ou infeliz.
Mas à minha maneira.
Maria Rosa Colaço

domingo, abril 08, 2007

Fascínio pela estupidez

...
Hoje em dia, há muita retórica, muita simulação, muita palavra sem substância, travestida de “idéia”. Os intelectuais do nosso tempo (claro que não todos, não se pode generalizar, pois há inúmeras exceções), adotam pomposos jargões, inúteis, desnecessários e incompreensíveis, acessíveis apenas a meia dúzia de “iniciados”, para expressar supostos princípios, que dão a impressão, aos desavisados, de conteúdo, que na verdade não têm. “Words, words, words”, diria Shakespeare.
Víctor Hugo definiu esse procedimento de forma até mais direta e objetiva. Afirmou: “Quando não somos inteligíveis é porque não somos inteligentes”. A simplicidade, embora não pareça, é uma virtude rara e desejável, principalmente no que diz respeito à comunicação, ao raciocínio e à expressão de idéias consistentes e construtivas..
Por isso, não posso deixar de dar razão ao cineasta francês, Claude Chabol, quando afirma que “a estupidez é muito mais fascinante que a inteligência. A inteligência tem os seus limites, a estupidez não”.
Nesses casos específicos, citados acima, de Galileu e de Giordano Bruno (e em tantos e tantos e tantos outros que nem precisam ser mencionados), não tinha mesmo. O escritor alemão do século XVI, Friedrich Hölderlin, tem uma forma mais sutil, e mais poética, de expressar esta constatação. Escreveu: “O homem é um deus quando sonha e um mendigo quando pensa”.
Claro que o ideal seria exatamente o contrário. Ou seja, que ele fosse divino em seu raciocínio e indigente em termos de tolices. Mas... isso é esperar demais desse ser contraditório, dotado de imensa grandeza e, paradoxalmente, também de enorme miséria, que o pensador francês, Edgar Morin, classifica, com muita propriedade, de “homo demens”...

Pedro J. Bondaczuk é jornalista e escritor, autor do livro “Por Uma Nova Utopia”

sexta-feira, abril 06, 2007

quinta-feira, abril 05, 2007

pingo



talvez mar. azul.

talvez murmurar

terça-feira, abril 03, 2007

Páscoas


sejam felizes....sempre

domingo, abril 01, 2007

existem ? ! ...
























foto de António Manuel Pinto da Silva

vida

foto paulo santos

"Uma vida que é vivida,
e outra vida que é pensada"
(F. Pessoa)