segunda-feira, janeiro 30, 2006
domingo, janeiro 29, 2006
lágrima
sábado, janeiro 28, 2006
Eu
Álvaro de Campos - Eu
Eu, eu mesmo...
Eu, cheio de todos os cansaços
Quantos o mundo pode dar.
— Eu...
Afinal tudo, porque tudo é eu,
E até as estrelas, ao que parece,
Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças...
Que crianças não sei...
Eu...
Imperfeito? Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu...
Tive um passado? Sem dúvida...
Tenho um presente? Sem dúvida...
Terei um futuro? Sem dúvida...
A vida que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...
Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu...
Eu, eu mesmo...
Eu, cheio de todos os cansaços
Quantos o mundo pode dar.
— Eu...
Afinal tudo, porque tudo é eu,
E até as estrelas, ao que parece,
Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças...
Que crianças não sei...
Eu...
Imperfeito? Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu...
Tive um passado? Sem dúvida...
Tenho um presente? Sem dúvida...
Terei um futuro? Sem dúvida...
A vida que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...
Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu...
quinta-feira, janeiro 26, 2006
...
terça-feira, janeiro 24, 2006
domingo, janeiro 22, 2006
Cálice
Cálice "Chico Buarque & Milton Nascimento"
Pai
Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Pai
Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite e me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silencio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
Pai
Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil Pai abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito resta a cuca
dos bêbados do centro da cidade
Pai
Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Talvez o mundo não seja pequeno
Não seja vivo um facto consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça
Cálice
sábado, janeiro 21, 2006
seda pura
sexta-feira, janeiro 20, 2006
Cais
Cais - Elis Regina
Para quem quer se soltar
Invento o cais
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento amor e sei a dor de me lançar
Eu queria ser feliz
Invento o mar
Invento em mim o sonhador
Para quem quer me seguir
Eu quero mais
Tenho um caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir
Invento o cais
E sei a vez de me lançar
terça-feira, janeiro 17, 2006
AUSÊNCIA
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade
domingo, janeiro 15, 2006
colorido
sábado, janeiro 14, 2006
sim, farei ...
Sim, farei ..., e hora a hora passa o dia ...
Farei, e dia a dia passa o mês ...
E eu, cheio sempre só do que faria.
Vejo que o que faria se não fez,
De mim, mesmo em inútil nostalgia.
Farei, farei ... anos os meses são
Quando são muito – anos, toda a vida,
Tudo ... e sempre a mesma sensação
Que qualquer coisa há-de ser conseguida
E sempre quieto o pé e inerte a mão ...
Farei, farei, farei, ... sim, qualquer hora
Talvez me traga o esforço e a vitória,
Mas será só se nos trouxer de fora.
Quis tudo – a paz, a ilusão, a gloria ...
Que obscuro absurdo na minha Alma chora?
(FP)
Farei, e dia a dia passa o mês ...
E eu, cheio sempre só do que faria.
Vejo que o que faria se não fez,
De mim, mesmo em inútil nostalgia.
Farei, farei ... anos os meses são
Quando são muito – anos, toda a vida,
Tudo ... e sempre a mesma sensação
Que qualquer coisa há-de ser conseguida
E sempre quieto o pé e inerte a mão ...
Farei, farei, farei, ... sim, qualquer hora
Talvez me traga o esforço e a vitória,
Mas será só se nos trouxer de fora.
Quis tudo – a paz, a ilusão, a gloria ...
Que obscuro absurdo na minha Alma chora?
(FP)
quinta-feira, janeiro 12, 2006
A hora do cansaço
A hora do cansaço
As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nós cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho de eterno fica esse gosto ocre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.
Drummond de Andrade
As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nós cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho de eterno fica esse gosto ocre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.
Drummond de Andrade
terça-feira, janeiro 10, 2006
A Nossa Morte
O que mais me intriga e dói na nossa morte, como vemos na dos outros, é que nada se perturba com ela na vida normal do mundo. Mesmo que sejas uma personagem histórica, tudo entra de novo na rotina como se nem tivesses existido. O que mais podem fazer-te é tomar nota do acontecimento e recomeçar. Quando morre um teu amigo ou conhecido, a vida continua natural como se quem existisse para morrer fosses só tu. Porque tudo converge para ti, em quem tudo existe, e assim te inquieta a certeza de que o universo morrerá contigo. Mas não morre. Repara no que acontece com a morte dos outros e ficas a saber que o universo se está nas tintas para que morras ou não. E isso é que é incompreensível - morrer tudo com a tua morte e tudo ficar perfeitamente na mesma. Tudo isto tem significado para o teu presente. Mas recua duzentos anos e verás que nada disto tem já significado.
Vergílio Ferreira, in 'Escrever'
sexta-feira, janeiro 06, 2006
terça-feira, janeiro 03, 2006
E por vezes
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos
E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.
(David Mourão-Ferreira)
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos
E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.
(David Mourão-Ferreira)
domingo, janeiro 01, 2006
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