quarta-feira, junho 09, 2010

meu amor

foto de roberto cicchine ----------------------------
Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia/ Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia

- Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia /Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia .../Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia /E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria /Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia /Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor /Minha estrela da tarde/ Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde /Meu amor, meu amor /Eu não tenho a certeza /Se tu és a alegria ou se és a tristeza /Meu amor, meu amor /Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram /Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram /Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram/ E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram/ Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam /Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram /E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto/ É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto/ Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto

Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto /Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto.

José Carlos Ary dos Santos

5 comentários:

Anfitrite disse...

É o que se chama andar contra a corrente!
O (in)consciente tem destas coisas. Trazer à lembrança este este lindo poema, neste dia, antes chamado o (nojento) dia da Raça. Hoje apelidado das Comunidades.., que já não têm dinheiro para nos mandar.
Jocas lusas...

Eu fico arrepiada só de ler este poema e de me lembrar da voz do ARI. Só um grande Homem era capaz de fazer este poema. Pena é que a sua sensibilidade o tenha levado tão cedo.

Anónimo disse...

Uma escrita bem ao estilo do Zé Carlos.

Daniel Aladiah disse...

Querida Su
Um dos maiores poetas de sempre!
Um beijo
Daniel

Graça Sampaio disse...

Poderoso! Mesmo à Ary! E cantado pelo Carlos do Carmo também é qualquer coisa!

Su disse...

anfitrite...é isso mesmo...o inconsciente faz.nos destas.....mas este poema é imenso tal como o poeta

observador...lindoooo

daniel....sempre intenso.bjo

carol....poderoso, isso mesmo :)


jocas maradas....sempre