Magnífico artigo na Visão on-line! - Criancinhas!
A DEVIDA COMÉDIA, Miguel Carvalho, Quinta, 1 Março 2007
A criancinha quer Playstation. A gente dá.
A criancinha quer estrangular o gato. A gente deixa.
A criancinha berra porque não quer comer a sopa. A gente elimina-a da ementa e acaba tudo em festim de chocolate.
A criancinha quer bife e batatas fritas. Hambúrgueres muitos. Pizzas, umast antas. Coca-Colas, às litradas. A gente olha para o lado e ela incha.
A criancinha quer camisola adidas e ténis nike. A gente dá porque a criancinha tem tanto direito como os colegas da escola e é perigoso ser diferente.
A criancinha quer ficar a ver televisão até tarde. A gente senta-a ao nosso lado no sofá e passa-lhe o comando.
A criancinha desata num berreiro no restaurante. A gente faz de conta e o berreiro continua.
Entretanto, a criancinha cresce. Faz-se projecto de homem ou mulher. Desperta.
É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada, semanada, diária. E gasta metade do orçamento familiar em saídas, roupa da moda, jantares e bares.
A criancinha já estuda. Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas não se pode pressioná-la porque ela já tem uma vida stressante, de convívio em convívio e de noitada em noitada.
A criancinha cresce a ver Morangos com Açúcar, cheia de pinta e tal, e torna-se mais exigente com os papás. Agora, já não lhe basta que eles estejam por perto. Convém que se comecem a chegar à frente na mota, no popó e numas férias à maneira.
A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia o processo de independência meramente informal.
A rebeldia é de trazer por casa. Responde torto aos papás, põe a avó em sentido, suja e não lava, come e não limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são «uma seca».
Um dia, na escola, o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos pôrnos eixos a criancinha que os papás abandonaram à sua sorte, mimo e umbiguismo.
A criancinha, já crescidinha, fica traumatizada. Sente-se vítima de violência verbal e etc e tal. Em casa, faz queixinhas, lamenta-se, chora.
Os papás, arrepiados com a violência sobre as criancinhas de que a televisão fala e na dúvida entre a conta de um eventual psiquiatra e o derreter do ordenado em folias de hipermercado, correm para a escola eespetam duas bofetadas bem dadas no professor «que não tem nada que se armar em paizinho, pois quem sabe do meu filho sou eu».
A criancinha cresce. Cresce e cresce.
Aos 30 anos, ainda será criancinha, continuará a viver na casa dos papás, a levar a gorda fatia do salário deles. Provavelmente, não terá um emprego. «Mas ao menos não anda para aí a fazer porcarias».
Não é este um fiel retrato da realidade dos bairros sociais, das escolas em zonas problemáticas, das famílias no fio da navalha? Pois não, bem sei. Estou apenas a antecipar-me.
Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar ao hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo.
E então teremos muitos congressos e debates para nos entretermos.
A DEVIDA COMÉDIA, Miguel Carvalho, Quinta, 1 Março 2007
A criancinha quer Playstation. A gente dá.
A criancinha quer estrangular o gato. A gente deixa.
A criancinha berra porque não quer comer a sopa. A gente elimina-a da ementa e acaba tudo em festim de chocolate.
A criancinha quer bife e batatas fritas. Hambúrgueres muitos. Pizzas, umast antas. Coca-Colas, às litradas. A gente olha para o lado e ela incha.
A criancinha quer camisola adidas e ténis nike. A gente dá porque a criancinha tem tanto direito como os colegas da escola e é perigoso ser diferente.
A criancinha quer ficar a ver televisão até tarde. A gente senta-a ao nosso lado no sofá e passa-lhe o comando.
A criancinha desata num berreiro no restaurante. A gente faz de conta e o berreiro continua.
Entretanto, a criancinha cresce. Faz-se projecto de homem ou mulher. Desperta.
É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada, semanada, diária. E gasta metade do orçamento familiar em saídas, roupa da moda, jantares e bares.
A criancinha já estuda. Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas não se pode pressioná-la porque ela já tem uma vida stressante, de convívio em convívio e de noitada em noitada.
A criancinha cresce a ver Morangos com Açúcar, cheia de pinta e tal, e torna-se mais exigente com os papás. Agora, já não lhe basta que eles estejam por perto. Convém que se comecem a chegar à frente na mota, no popó e numas férias à maneira.
A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia o processo de independência meramente informal.
A rebeldia é de trazer por casa. Responde torto aos papás, põe a avó em sentido, suja e não lava, come e não limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são «uma seca».
Um dia, na escola, o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos pôrnos eixos a criancinha que os papás abandonaram à sua sorte, mimo e umbiguismo.
A criancinha, já crescidinha, fica traumatizada. Sente-se vítima de violência verbal e etc e tal. Em casa, faz queixinhas, lamenta-se, chora.
Os papás, arrepiados com a violência sobre as criancinhas de que a televisão fala e na dúvida entre a conta de um eventual psiquiatra e o derreter do ordenado em folias de hipermercado, correm para a escola eespetam duas bofetadas bem dadas no professor «que não tem nada que se armar em paizinho, pois quem sabe do meu filho sou eu».
A criancinha cresce. Cresce e cresce.
Aos 30 anos, ainda será criancinha, continuará a viver na casa dos papás, a levar a gorda fatia do salário deles. Provavelmente, não terá um emprego. «Mas ao menos não anda para aí a fazer porcarias».
Não é este um fiel retrato da realidade dos bairros sociais, das escolas em zonas problemáticas, das famílias no fio da navalha? Pois não, bem sei. Estou apenas a antecipar-me.
Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar ao hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo.
E então teremos muitos congressos e debates para nos entretermos.
17 comentários:
Deixa-me felicitar-te por este texto Su!... Mais palavras para quê?
Uma beijoka
Infelizmente já é assim e talvez vá piorar!
Bom feriado :)
Eu não sou tão pessimista assim... a sociedade evolui sempre, os pais não poderam ter mts coisas na sua geração, e agora que as podem dar aos filhos, querem fazê-lo...
Um excelente resto de feriado!
a.s.....é verdade.............joca
rosa dos ventos.....já chegamos lá..infelismente............
perola.....tb para vcs..jocas
eduardo abreu....isto não é pessimismo........azar do realismo-------infelizmente assim é.....basta estar atento.........estamos no seculo da criancinha e os seus frutos estão aí...............sem pessimismos.....evolução, educação , formação ...são coisas diferentes uma das outras......estamos tento uma crise de valores .......basta ler atentamente o texto e olhar para o lado.............jocas
jocas maradas per tutti
pois....infelizmente........zzz........eu dou erros nas teclas sem dó:))))))))))))))++++++jocas
Já conhecia o texto e olha que não anda muito longe da realidade.
Beijos
Infelizmente são muitas as verdades,johe existem pais que pagam aos filhos através de mesadas para se portarem bem,fazem deles uns coitadinhos ,são ensinados desde cedo o mundo do suborno.
Bjs Zita
infelizmente, assim é. bjo.
... é, infelizmente, a triste realidade ...
beijinhos
Nem mais. E assino por baixo!
Bjkas
Infelizmente a realidae é completamente assim, sem tirar nem por.
bjos
M.H.
Fui professora durante 33 anos e com as crianças com quem trabalhava e com os pais dessas crinaças que eu escutava e aconselhava , previ exactamente esta situação .
Lutei contra a maré mas perdi muitos casos e fui mal tratada .
12/05/07
wind...acho que foste tu que mo envou:))))))))jinhos
entre-linhas...ou melhor não são ensinados.............jocas
martim; isabel; esquise; as velas...infelizmente assim é..jocas
M.H....entendo-----o mesmo se passou/passa com minha mae....:)não no facto de ser maltratada , mas na tomada de consciencia e alerta para a situação que estava e está sendo criada......ainda hoje ela luta....pela educação/formação... but....o poder dos pais/não educadores é absoluto e inconsciente perante a vida...e a falta de valores é total
jocas maradas per tutti-------
Parabéns por este post Su!
Falaste aqui de um assunto muito pertinente e actual e que tem que ser corrigido rapidamente.
Como mãe agradeço-te.
beijinhos
Infelizmente é uma das realidades do nosso quotidiano. tenho cá uma "criancinha" em casa e revejo algumas das cenas aqui descritas,, não todas porque ainda sou apologista de que a " criancinha " tem deveres e obrigações em casa e se for preciso ainda esta muito a tempo de levar aquela palmada certa no momento certo, jokas
Eheheheheh...
E agora outras "criancinhas": brilhante aluno, a justificar o investimento paternal; depressa se emprega e mais depressa ainda casa; saídas não teve, paixões muito menos, e a expressão "caso" é-lhe estrangeira. Tem um cônjuge perfeito numa casa perfeita com um filho perfeito. Não gasta em fraldas, leite e creche, porque os papás fazem questão de oferecer. A carne do supermercado, parte do empréstimo da casa a roupa da criança também estão por conta dos avós babados.
Um dia descobre que a felicidade ou se sente ou não vale a pena aparentar. Surge o divórcio como segundo passo para a independência.
Mas agora tem mais de 30 anos e é adulta/o. Volta para casa dos pais, faz dela creche a tempo inteiro, come à mesa e não paga, nem sempre diz quando vem. Está a passar por um mau bocado, há que perdoar-lhe... Afinal, trata-se de uma pessoa crescida... Já foi casada/o e tudo!... E a maternidade/paternidade fica-lhe bem; principalmente porque pode agora compensar em saídas e night... Já que a criança fica em boas mãos, no conforto do lar! :-)
Sorry, não resisti! ;-)
Sinais dos tempos?...
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