sexta-feira, junho 23, 2006

Reconhecimento à Loucura

Já alguém sentiu a loucura vestir de repente o nosso corpo?
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parecer ser o fim?
Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor que nos faz seguir viagem sem paragem nem resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins na aula de descer abismos e fazer dos abismos descidas de recreio e covas de encher novidade?

E de uns fazer gigantes e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível atrevidamente e ganhar-Ihe, e ganhar-Ihe a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?

Tu Só, loucura, és capaz de transformar
o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais
Só tu és capaz de fazer que tenham razão
tantas razões que hão-de viver juntas.
Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar a quem tas vier buscar


José de Almada Negreiros

Poemas Assírio & Alvim

3 comentários:

wind disse...

Grande Almada!
beijos

Su disse...

win..gosto dessa loucura que nos tira do peganhento.....jocas maradas

Su disse...

hl..é verdade simmmmmm. jocas