domingo, outubro 02, 2005

cigarro


(...) mais um cigarro, e depois outro. Preciso tanto, sabem.
O meu cigarro místico inspira-me e solta-me a língua colada ao céu da boca.
Quando o acendo, é o incêndio, o relampago fulminante: um vulcão no ventre, nas entranhas, um fogo prurificador que sobe (...)
As palavras duram o que dura um cigarro, e o fogo leva tudo (...)
o cigarro foi a unica coisa que trouxe desse passado a que peguei fogo.
Por que será que continuo a ser tentado a acendê-lo, a vê-lo arder, a consumir-sse lentamente, a desaparecer? Por que será que gosto tanto de encher a boca com esse fumo acre e misturar o meu hálito ao dele?
É como aspirar a alma de um ser vivo que morre na ponta dos meus dedos.
É como um amor devastador, um combate íntimo de que só resta o cheiro a queimado e as cinzas acumuladas.
Todas essas recordações (...) mais do que se tivesse mil anos
.
(O ouro e a cinza)

4 comentários:

reverse disse...

Gosto de me lembrar do prazer que tinha quando fumava o primeiro cigarro da manhã. Livrei-me do vício mas ficou alguma nostalgia.
Bjos.

Nilson Barcelli disse...

O que se pode dizer à custa de um cigarro...
E bem, pois o texto é muito bom.
Beijinhos e boa semana.

Maria Carvalho disse...

Lindo! Gostei muito deste texto! É verdade, cada recordação entranha-se ao misturar este cigarro que fumo no meu hálito, e ao acender um outro para lhe dar já aceso! Beijos

Raquel Vasconcelos disse...

Caramba... gostei imenso.

"o cigarro foi a unica coisa que trouxe desse passado a que peguei fogo."

Senti como sendo um representante daquelas pequenas coisas que ficam... quando já deitámos fora um passado...